Devido a sua vasta biodiversidade, as áreas verdes dos manguezais são verdadeiros criadouros naturais para aves e peixes, caracterizando-os como um dos ecossistemas mais importantes para o nosso planeta e, consequentemente, para o equilíbrio do estado de espírito dos seres humanos que vivem no entorno.
Na foto uma espécie de Capivara, Savacu e o Maguari rodeando o manguezal da Lagoa (foto Heitor Wegamann)
Vale registrar que, segundo estudo da ONU, os manguezais têm um papel relevante no combate ao aquecimento global, já que conseguem retirar da atmosfera até cinco vezes mais carbono do que as florestas.
Curiosidade para perceber essa bela riqueza natural
Bem provável que muitos dos que leem esse artigo já devem ter se deparado com ambientes como esses - ecossistema costeiro entre os ambientes terrestre e marinho – sempre às margens de baías, lagoas, barras e enseadas. Basta apenas saber se tiveram a sensibilidade ou curiosidade para perceber essa imensa e bela riqueza natural.
Margem da Lagoa Rodrigo de Freitas nos anos 70 e nos dias de hoje
Na foto descolorida (registro do ano de 1970), ao contrário da foto principal (registro do ano de 2021), é possivel perceber a ausência total de mangue na margem da Lagoa próximo a saída do Túnel Rebouças.
Despertar de um olhar atento a tudo que nos cerca
Foi justamente a partir de minha experiência com o entorno do bairro onde moro, experiência que cultuo desde pequeno, que coloco como sugestão o despertar de um olhar atento a tudo que nos cerca (fauna e flora).
Ninho moderno, em árvore no entorno da Lagoa, com elementos que fazem parte de nosso dia a dia
Ao desenvoler essa prática, acredito seguramente que nossos dias serão muito melhores, nossos e das gerações futuras. Pode creditar!
Vivido de forma intensa e respeitosa nesse espaço natural
Nascido e criado na Lagoa Rodrigo de Freitas (bairro da zona sul do Rio), tendo vivido de forma intensa e respeitosa nesses espaços naturais ao longo de cinco décadas, tenho tido a oportunidade de acompanhar o incansável trabalho do biólogo Mario Moscatelli reflorestando o manguezal no entorno desse enorme espelho d`água.
Eu e o Mario em um encontro casual quando defendia sua tese junto a um secretário de meio ambiente
Acompanhamento que faço de forma proposital (olhar atento ao meio que nos cerca) e acidental, como foi a última vez que o encontrei orientando os jardineiros municipais na poda dos manguezais. Ali aprendi mais uma vez que a riqueza do ecossistema de um mangue só é plena se você respeita os costumes do habitat de sua fauna.
Gostam de habitar mangues altos, médios e baixos
Na ocasião, enquanto um Oportunista Político Local (tradução livre para Gestor Executivo Local - servidor nomeado pelo prefeito do Rio) dizia que era importante podar toda a extensão do mangue no entorno da Lagoa para que os pedestres pudessem desfrutar da vista, Mario dizia que não, pois tem bichos que gostam de habitar mangues altos, médios e baixos.
A Samambaia do Brejo faz parte do ecossistema do manguezal da Lagoa
Associado a tudo isso, posso complementar que a experiência que vivi em um desses domingos foi especialmente marcante. Marcante pelo simples fato de constatar que um reflorestamento e uma poda planejada gera resultados – mesmo que no longo prazo.
Tamanha foi a minha surpresa, que resolvi travar um diálogo com o Mestre dos Mangues:
- Mestre Moscatelli, você diria que conseguiu alcançar 90% de replantio de mangue no entorno da Lagoa? Leonardo, dos 7.2 km do perímetro, estimo 3.0 km de margens plantadas. Retruco:
- Suponho então que o resto foi por conta da mãe natureza, já que percebo muito mais do que 3Km de mangue plantado no entorno, certo? Ele respode:
- Um dos fundamentos para que um projeto de renaturalização seja considerado um sucesso é o mesmo ter a capacidade de se autoperpetuar, no caso do Moscatelli voltar ao seu planeta (rs). O projeto Manguezal da Lagoa já demonstrou isso em sua flora e fauna. Leva tempo, mas se souber fazer a coisa acontece!
Enquanto desfrutava de minha caminhada ao longo dos mais de 7500 metros de ciclovia da Lagoa, tive a felicidade de presenciar um bando de Colhereiros mexendo, com seus bicos em forma de colher, uma área assoreada da região.
Por causa do reflorestamento e suas consequências
A presença inusitada da espécie (Segundo Moscatelli, esse tipo de ave não era vista há muito tempo na região), só foi possível por causa do reflorestamento e suas consequências, como a melhoria das condições locais. Melhoria da qualidade ambiental que trouxe a presença de diversos tipos de caranguejos, peixes e pequenos répteis que encontram nos mangues as condições ideais para sua reprodução.
Colhereiros visitam a Lagoa Rodrigo de Freitas em busca de alimentos (Foto Moscatelli)
Respeitar, cuidar e dividir as melhores experiências
Passear, contemplar, admirar, respeitar, cuidar e dividir as melhores experiências com o meio em que vivemos é o que falta em nossa sociedade. Somente quando a maior parte da população perceber isso – deixando de lado tanto egocentrismo digital - o estado de espírito de uma geração se elevará ao nível necessário para encontrar o planeta que Moscatelli faz referência. Aliás, confesso que tenho trabalhado por esse planeta ideal faz tempo!
Havendo interesse em conhecer um pouco da história do biólogo e Mestre do Mangue responsável por tudo isso, sugiro dedicar um tempinho para assistir um bate papo virtual que fiz com ele.
Segue o link: O homem parasita e o meio em que vive